Santos brasileiros: os mártires de Cunhaú e Uruaçu

Trinta brasileiros sofreram o martírio e foram canonizados pela Igreja. Conheça a história desses ainda pouco conhecidos santos brasileiros. Durante o período colonial, o Brasil estava fortemente ligado à fé católica, principalmente por causa do incansável trabalho de catequização realizado pelos missionários jesuítas. À época, não existiam os estados como conhecemos hoje. As regiões administrativas eram chamadas de capitania, e a capitania do Rio Grande, atual Rio Grande do Norte, foi o palco de dois grandes massacres feitos por invasores holandeses, ajudados por indígenas e potiguares da região, contra fiéis católicos. As chacinas deixaram muitos mortos, e, em 2017, 30 deles tiveram o seu martírio reconhecido e foram canonizados pelo Papa Francisco. 

Os santos brasileiros de Cunhaú e Uruaçu

A invasão holandesa e o primeiro ataque em Cunhaú

O ano era 1645. O Brasil, ainda uma colônia de Portugal, estava inserido no contexto histórico das invasões holandesas ao nordeste. Os europeus estavam interessados em cobrar dívidas portuguesas e assumir o controle da produção de açúcar na região. Os invasores eram calvinistas, doutrina proveniente do protestantismo, e tinham grande intolerância à fé católica. Obtiveram êxito na invasão, exercendo o domínio na região.  No município de Canguaretama, localizado no Engenho de Cunhaú, ficava a capela de Nossa Senhora das Candeias, onde fiéis católicos, sob a liderança religiosa do padre André de Soveral, frequentavam a missa dominical. Padre André era responsável pela catequização e disseminação do catolicismo às pessoas de Cunhaú.  Havia chegado à região um alemão que estava servindo o governo flamengo. Seu nome era Jacob Rabbi. Ele tinha os índios Janduís, muito comuns na região e conhecidos por “tapuias”, como seus aliados, já que era casado com uma indígena. Como de costume, a comunidade cristã católica estava reunida na capela para a celebração da Missa. Logo após o momento da elevação do Corpo e Sangue de Jesus, Jacob Rabbi invade o templo, acompanhado por seus soldados e pelos indígenas. Juntos, trancam as portas e promovem um terrível massacre, considerado um dos mais trágicos da história do Brasil. O padre e várias pessoas tiveram seus corações arrancados pelas tropas calvinistas. Diversos fiéis, percebendo que seriam mortos, pediram perdão a Jesus por seus pecados. Nem mesmo as crianças foram poupadas. 

O massacre de Uruaçu

Três meses após o massacre de Cunhaú, o medo de que algo parecido voltasse a acontecer passou a assustar os moradores da capitania. Muitos deles se refugiaram em Uruaçu, às margens do rio Potengi, por esse ser considerado um local seguro. Mesmo assim, no dia 3 de outubro de 1645, o que era receio de todos voltou a acontecer.  Novamente sob a liderança de Jacob Rabbi, fiéis católicos foram atacados durante a Missa. Novamente após a Transubstanciação, a igreja foi invadida, teve as suas portas trancadas e as tropas holandesas empreenderam um ataque ainda mais feroz do que o primeiro. O celebrante da Missa, padre Ambrósio Francisco Ferro, foi torturado e morto. Para evitar que orações fossem proferidas pelos católicos, os algozes arrancaram suas línguas. Um dos fiéis, Mateus Moreira, exclamava “louvado seja o Santíssimo Sacramento!” um pouco antes do momento de sua morte.

Beatificação dos mártires brasileiros

A Igreja teve conhecimento sobre o ocorrido. Em 16 de junho de 1989 o processo de beatificação foi autorizado pela Santa Sé. Em 21 de dezembro de 1998 o Papa João Paulo II assinou um decreto que reconhecia o martírio de 30 brasileiros, 28 leigos e dois sacerdotes, os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro. A cerimônia de beatificação ocorreu na Praça de São Pedro, no Vaticano, no dia 5 de março de 2000, sendo presidida pelo Papa João Paulo II. 

Santos brasileiros: a canonização dos mártires de Cunhaú e Uruaçu

O processo de canonização estava na Congregação para a Causa dos Santos desde 2015, indicado pelo Papa. Somados os dois massacres, foram vitimadas 150 pessoas, porém apenas 30 foram formalmente identificadas e seguiram com os procedimentos. Eram 25 homens e cinco mulheres. Havia crianças e até mesmo bebês entre eles. O dia 15 de outubro de 2017 foi muito aguardado pelo povo brasileiro e por toda a Igreja. Na Praça de São Pedro, cerca de 35 mil católicos, por volta de mil brasileiros, presenciaram o Papa Francisco declarar santos os mártires de Cunhaú e Uruaçu e marcar a celebração de suas festas litúrgicas para o dia 3 de outubro.

Homenagens aos santos brasileiros

No local do massacre, foi erguido o “Monumento dos Mártires”. O espaço é local de peregrinação e recebe a visita de milhares de pessoas, sendo o maior ponto de visitação religiosa do estado. O dia 3 de outubro é considerado feriado estadual e as festividades contam com a presença de fiéis vindos de todas as partes do Brasil para celebrar a memória dos santos brasileiros.    Coroados pelo martírio, estes santos brasileiros nos deixaram um Brasil bem mais fértil para se viver a fé católica. Seus sacrifícios nos levam à reflexão sobre as dificuldades enfrentadas pelo Evangelho para se consolidar em nossas terras e deixa nossos corações agradecidos pelo exemplo máximo de fé em Jesus Cristo e amor pela Santa Igreja.

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