O diabo quer nossos filhos para ele!

Somos família católica, Igreja doméstica. Portanto, parte da família de Deus e membros da Igreja Universal. Nossos filhos são filhos de Deus e da Igreja. Eles possuem, pela nossa fé, e pelo Batismo que receberam, a graça da comunhão com Deus, uma relação de amizade e intimidade com o Senhor. Isso já os deve diferenciar dos filhos daqueles que não creem.

E o demônio, sabendo que as outras crianças, não-batizadas, ou batizadas e que não são educadas na fé, já são suas – e cabe a nós fazer apostolado para reconquistá-las para Jesus, livrando-as das garras do diabo –, se preocupa, ele, o demônio, em ganhar as almas dos nossos filhos.

As crianças de uma família católica não estão imunes às seduções do maligno, da carne e do mundo, que são os inimigos de nossas almas, e cabe aos pais católicos zelosos protegerem os seus filhos. Uma das grandes ferramentas para isso consiste na educação cristã, principalmente no lar, formando-os na doutrina católica tal qual ensinada nas Escrituras e na Tradição e exposta pelo Magistério da Igreja, na verdadeira piedade, no zelo pelas coisas de Deus, e na busca da santidade.

É por isso que São Paulo nos manda criar os filhos “na educação e doutrina do Senhor” (Ef 6,4). Disso prestaremos contas ao Justo Juiz quando Ele vier em sua glória.

Satanás muitas vezes age para capturar nossos filhos pela falta de ocupação. Lembram do adágio que dizia que cabeça vazia é oficina do diabo? É isso mesmo. Deus mesmo diz, pelo profeta Ezequiel, que um dos crimes de Sodoma era a ociosidade (cf. Ez 16,19).

“Sem a moral, a ordem não é mais que trégua ou cansaço, e fora dela a liberdade é um engano e uma quimera.” (Gabriel Garcia Moreno)

Para vencer as ameaças do diabo, da carne e do mundo importa dar disciplina aos nossos filhos. Correção, muitas vezes com dureza, mas sempre movida por amor e com proporcionalidade. A combinação de dois versículos nos dá a receita do equilíbrio, nem tão liberal nem tão rigorosa: “Vara e correção dão a sabedoria; menino abandonado à sua vontade se torna a vergonha da mãe” (Pr 29,15). “Pais, deixai de irritar vossos filhos, para que não se tornem desanimados” (Cl 3,21).

Ainda que nossos filhos tenham sido regenerados nas águas do Batismo, tenham nascido de novo pelo Espírito Santo mediante a graça do sacramento, a tendência ao mal, ao pecado, ainda se encontra neles – e em todos nós. É a concupiscência, e dela não está livre a criança. “A loucura apega-se ao coração da criança” (Pr 22,15).

O segundo livro bíblico de Macabeus (cf. II Mac 7,1-42) nos conta a história de sete irmãos, presos com a sua mãe, por sua fidelidade à religião revelada por Deus. Judeus devotos, recusaram-se a prestar culto aos ídolos. Preferiram obedecer ao Senhor do que obedecer ao rei Antíoco, que conquistara Jerusalém e queria impor seus abomináveis costumes pagãos. O próprio Templo de Jerusalém foi profanado com uma estátua de Zeus.

Foram os sete irmãos barbaramente torturados. Um deles teve sua língua arrancada por brasas e a pele da cabeça lhe foi arrancada, perdendo também as mãos e os pés, tudo isso ainda vivo, e diante dos irmãos e da mãe. O castigo veio porque esse irmão Macabeu não comeu a carne de porco, proibida na Lei de Moisés. Preferiu todo esse suplício a desobedecer a Deus.

O que fizeram os outros irmãos? Exortaram-se a manter a fidelidade. A própria mãe, em vez de pedir que os filhos abdicassem da fé, os estimulava a morrer pela verdade. Que mãe moderna faria isso? Uma mãe que prefere ver os filhos mortos nesta terra e sofrendo terrivelmente do que sofrendo na eternidade o fogo do inferno revela profunda fé em Deus e uma confiança inabalável na recompensa divina. É uma mãe alicerçada em valores perenes, e que sabe que o certo é sempre certo, não mudando conforme as circunstâncias. Mais ainda: a mãe dos Irmãos Macabeus, chamada Solomonia (e que é santa, com seus filhos, tendo sua festa pelo calendário bizantino a 14 de agosto), revelava, com sua conduta, a crença no inferno e nas penas reservadas aos ímpios.

A mãe cristã deve imitar Santa Solomonia: incite seus filhos a professarem a verdadeira fé, a não arredarem um pé da fidelidade a Deus, ainda que ao preço de sua morte física e das mais terríveis desgraças ao corpo.

Séculos mais tarde, o ensino da mãe dos Sete Macabeus será reverberado por Cristo: “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na Geena” (Mt 10,28).

É preciso ensinar nossos filhos, desde a mais tenra idade, que mais vale perder esta vida do que a vida eterna. Que é necessário odiar o diabo, o mundo e a carne. Que é imperioso ter verdadeiro horror ao pecado mortal, que separa nossa alma da vida em Deus. E que Ele, o Senhor, nos ama incomensuravelmente, e nos recompensará pela nossa fidelidade à Sua Santa Lei.

Nesse sentido, filhos devem aprender logo que o amor aos pais é expressão do amor a Deus. E a Deus devem amar mais do que aos pais. Os pais verdadeiramente cristãos não se importam, antes se alegram, quando os filhos amam mais a Deus do que a eles. Até porque o mesmo vale aos pais: devem amar mais a Deus do que aos filhos. Amem seus filhos, mas primeiro e com mais intensidade e generosidade amem a Deus. Jesus mesmo disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim” (Mt 10,37).

Trecho do livro “Família Católica, Igreja doméstica: um guia prático para a vivência cristã no lar”, de Rafael Vitola Brodbeck e Aline Rocha Taddei Brodbeck.

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